Os nós da flecha: crise e sublevação na fronteira meridional do Império espanhol (Chile, 1655-1662)

Abstract

Em meados do século XVII, uma sublevação indígena de extraordinárias proporções abalou as áreas de ocupação colonial hispânica no centro-sul do Chile, então província do vice-reino do Peru, e desencadeou a ira dos moradores da cidade de Concepción contra as autoridades coloniais instituídas. Naquele tempo, as diferentes comunidades mapuches da região atravessavam o momento crucial de um processo de sociogênese que se expressava na articulação cada vez mais ampla e coesa de laços de aliança política e cooperação guerreira. O Império espanhol, ao contrário, colapsava na esteira do esgotamento de seu antigo modelo de exploração colonial e da ascensão de potências marítimas de novo estilo que começavam a fazer-lhe sombra em meio a um contexto internacional revolucionário. A simultaneidade desses dois movimentos produziu no âmbito local uma crise de sociabilidade e gerou graves impasses para a reprodução da vida na colônia. Foi no interior dessa conjuntura repleta de tensões que milhares de indivíduos com procedências, microetnias, situações jurídicas e ocupações laborais diversas adotaram a alternativa da insurreição conjunta. O presente trabalho se debruça sobre tal acontecimento e procura interpretá-lo em sua complexidade imanente, situando-o na intersecção de um complexo múltiplo e contraditoriamente estruturado de crises sociais.

mediados del siglo XVII, un alzamiento indígena de proporciones extraordinarias sacudió las áreas de ocupación colonial hispana en el centro sur de Chile – entonces provincia del Virreinato del Perú –, y desató la furia de los vecinos de la ciudad de Concepción contra las autoridades coloniales establecidas. En aquel tiempo, las múltiples comunidades mapuches de la región atravesaban por el momento crucial de un proceso de sociogénesis que se expresaba en la articulación cada vez más amplia y estrecha de lazos de alianza política y cooperación guerrera. El Imperio español, por el contrario, colapsaba a raíz del agotamiento de su antiguo modelo de explotación colonial y del surgimiento de poderes marítimos de nuevo estilo que comenzaban a eclipsarle bajo un contexto internacional revolucionario. La simultaneidad de estos dos movimientos produjo una crisis de sociabilidad a nivel local y generó graves problemas para la reproducción de la vida social en la colonia. En ese contexto lleno de tensiones, miles de sujetos de diferentes orígenes, microetnías, situaciones legales y ocupaciones laborales adoptaron la alternativa de la insurrección conjunta. El presente trabajo se centra en tal acontecimiento y busca interpretarlo en consideración a su complejidad inmanente, ubicándolo en la intersección de un complejo múltiple y contradictoriamente estructurado de crisis sociales.

In the mid-seventeenth century, a powerful indigenous uprising shook the Hispanic colonial zones of southern central Chile – then province of Vice-Kingdom of Peru – and unleashed the fury of the inhabitants of the city of Concepción against the established colonial authorities. At that time, the various Mapuche communities were in the crucial moment of a process of sociogenesis, expressed in an ever broader and more cohesive articulation of political alliances and cooperation in warfare. On the other hand, the Spanish Empire was collapsing due to the exhaustion of its old model of colonial exploitation and the rise of new maritime powers that began to overshadow it under an international revolutionary context. The simultaneity of these two movements produced a crisis of sociability at local level and generated serious impasses for the reproduction of social life in that colony. Amidst the turmoil, thousands of Mapuche individuals with different origins, micro-ethnicities, legal status, and labour occupations opted for a joint insurrection. The present work focuses on this event, unveiling its immanent complexities, as well as placing it in the intersection of a multiple and contradictorily structured complex of social crises.